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Seletividade alimentar infantil: nutricionista cita riscos nutricionais e dicas práticas para o dia a dia

Seletividade alimentar infantil: nutricionista cita riscos nutricionais e dicas práticas para o dia a dia Adobe Stock Quando a criança empurra o brócolis, fa...

Seletividade alimentar infantil: nutricionista cita riscos nutricionais e dicas práticas para o dia a dia
Seletividade alimentar infantil: nutricionista cita riscos nutricionais e dicas práticas para o dia a dia (Foto: Reprodução)

Seletividade alimentar infantil: nutricionista cita riscos nutricionais e dicas práticas para o dia a dia Adobe Stock Quando a criança empurra o brócolis, faz careta para o feijão ou recusa o “vermelhinho” do prato, muitos pais se perguntam: até que ponto isso é normal? A seletividade alimentar é um comportamento comum na infância, mas pode se agravar se não for percebida e trabalhada desde cedo e, em alguns casos, levar a deficiências nutricionais e até distúrbios alimentares no futuro. Segundo a nutricionista Gabriela Kapim, especialista em comportamento alimentar infantil, a seletividade costuma surgir entre os 2 e 3 anos, quando a criança começa a desenvolver autonomia e passa a querer decidir sobre o que vai ou não comer. “É a fase em que ela percebe que pode dizer ‘não’. Como a comida vem pronta, rejeitar é a única decisão que a criança consegue tomar”, explica. Quando o “verdinho” vira o vilão A introdução alimentar começa aos 6 meses, quando o leite deixa de ser o único alimento. Até por volta dos 2 anos, a maioria das crianças aceita bem frutas, legumes e verduras — afinal, a boca é uma das principais formas de explorar o mundo. “Por isso, nessa fase, o bebê leva tudo à boca. Mas, conforme cresce, passa a querer controlar as próprias escolhas”, afirma Gabriela. A seletividade se manifesta de forma gradual: primeiro vem a recusa do “verdinho”, depois do “vermelhinho”. Quando os pais percebem, a criança está comendo apenas arroz e ovo — um cardápio repetitivo e pobre em nutrientes. O auge: entre 6 e 7 anos O comportamento seletivo tende a aumentar até os 6 ou 7 anos, quando a monotonia alimentar se consolida. “Aos 4 ou 5 anos, os pais já sabem o que o filho aceita. O prato passa a ter apenas o que ele não rejeitou — e, sem perceber, a família para de tentar novas estratégias”, explica a nutricionista. É justamente nesse ponto que o risco cresce: a falta de variedade afeta a qualidade nutricional, o sistema digestivo e pode favorecer hábitos alimentares ruins na adolescência e vida adulta. Professora viraliza ao criar pratos divertidos para sobrinho com seletividade alimentar Consequências físicas e emocionais A seletividade alimentar pode gerar deficiências de vitaminas e minerais, prisão de ventre e até alterações de colesterol e triglicerídeos. “O intestino fica ‘preguiçoso’ para experimentar coisas novas. Além disso, a monotonia alimentar abre espaço para o excesso de açúcar e ultraprocessados”, alerta Gabriela. Na adolescência, a falta de autonomia na cozinha e a busca por praticidade favorecem o consumo de alimentos industrializados, ligados ao aumento da obesidade infantil e da desnutrição moderna — quando há excesso calórico, mas falta de nutrientes. O impacto também é social e emocional “Crianças muito seletivas têm dificuldade de ir à casa de amigos ou dormir fora, porque não sabem o que vai ter para comer. Isso limita a vida social”, diz a nutricionista. Além disso, o consumo restrito pode gerar ansiedade e dependência emocional em relação à comida ou ao cuidador. Quando a seletividade pode indicar um problema Em alguns casos, a seletividade pode estar associada a transtornos alimentares. “É essencial identificar cedo quando a criança começa a eliminar itens do prato ou deixar de comer algo que sempre comeu. Ceder nesse momento pode abrir caminho para distúrbios futuros”, explica Kapim. Crianças com transtorno do espectro autista (TEA) tendem a ser mais seletivas por sensibilidade sensorial, mas também podem evoluir com estratégias adequadas. Explorar o prato: o desafio de experimentar Fazer careta diante de um novo alimento não significa rejeição. “A careta é parte da exploração. O erro é o adulto interpretar como recusa e desistir. A frustração dos pais desestimula a curiosidade da criança”, explica Kapim. Uma estratégia simples é o “desafio da experimentação”: propor que a criança prove um alimento novo por dia — sem a obrigação de gostar. “O desafio não é gostar, é experimentar. Isso já é uma vitória. O gosto pode vir depois”, orienta. Como ensinar o paladar Segundo a nutricionista, o paladar pode ser educado a qualquer idade, porque as papilas gustativas se renovam a cada três meses. “Se eu preparo cenoura de dez jeitos diferentes, e a criança experimenta todos, são dez chances de descobrir uma forma de gostar”, explica. Também é importante demorar para apresentar alimentos muito doces ou salgados, que viciam o paladar e dificultam a aceitação de sabores naturais. Autonomia e regras: o equilíbrio necessário Dar autonomia é essencial, mas com regras claras. “O prato precisa ter cinco cores. A criança pode escolher quais cores colocar, mas não comer o ‘verdinho’ não é uma opção”, diz Kapim. A dica é envolver a criança na montagem do prato e no preparo das refeições — levar à cozinha, permitir que ajude nas tarefas seguras e participe das decisões. Quando a criança participa, ela se sente parte do processo e o interesse pela comida cresce naturalmente. Exemplo que vem da mesa O comportamento dos pais é um dos fatores mais determinantes. “As crianças aprendem mais pelo olhar do que pela fala. Se os adultos não comem frutas, legumes e verduras, não dá para cobrar isso delas. Se o adulto quer envelhecer saudável, precisa ser exemplo de alimentação equilibrada”, destaca a nutricionista. Kapim defende que a família compartilhe valores e regras à mesa — mesmo que os alimentos sejam diferentes. Crianças podem pular o café da manhã? Veja como lidar com a falta de fome das crianças ao acordar Erros comuns dos pais Entre os erros mais frequentes estão: Desistir de oferecer após uma ou duas recusas; Apontar limitações, como “ele é chato pra comer”; Esconder ingredientes no prato, o que gera desconfiança; Usar chantagens ou recompensas, que criam relação negativa com a comida. “Não é sobre obrigar, e sim sobre ensinar o paladar. O segredo é reapresentar o mesmo alimento de jeitos diferentes e com paciência”, reforça a especialista. Como estimular desde cedo A nutricionista sugere cinco práticas simples para toda a família: Comer à mesa, em ambiente tranquilo e sem distrações; Evitar telas durante as refeições — o cérebro precisa registrar os estímulos visuais, olfativos e gustativos; Desenvolver autonomia, permitindo que a criança toque, veja e descubra os alimentos; Montar o prato com cinco cores — cereal, leguminosa, proteína e dois vegetais coloridos; Experimentar novos alimentos com frequência, sem pressão. Dicas econômicas para famílias Manter uma alimentação saudável não precisa pesar no bolso. A nutricionista sugere ir à feira em horários mais tardios, quando os preços caem, comprar alimentos da safra e dividir compras em grupo, como caixas de verduras ou frutas entre vizinhos ou familiares. Alimentos da safra são mais baratos e mais nutritivos. Pequenas mudanças já ajudam muito no orçamento e na saúde. Sem pena e sem preguiça Para Kapim, educar o paladar é um processo que exige constância, paciência e vínculo. “A gente não pode ter dois Ps para educar: pena e preguiça. Dá trabalho, mas vale a pena. Continue oferecendo, variando, reapresentando. Uma hora, o paladar aprende”, explica.